sexta-feira, 13 de abril de 2012

Tijolos


Às quatro e meia da madrugada, Seu Joaquim joga a manta de lado e põe-se em pé ao lado do fogão para requentar o café. Passa a mão nos olhos pra ver se limpa o sono do rosto. Depois de tomar meio copo do café amargado, vai do lado de fora de sua casa e urina no sanitário ajeitado entre duas muretas e uma porta de madeira apodrecida.
Coloca sua calça cinza, a camisa empoeirada e o velho calçado de sola gasta.
Despede-se da mulher, que já se ajeita para sair também:
-Muié, tô ino. Fic’um Deus.
Sai, assim, todas as manhãs sem a sensação do corpo descansado.
Seu Joca, assim chamado pelos camaradas da construção, caminha cerca de 1 quilômetro até a estradinha que vai dar na igreja da cidade. Espera o caminhão. Mal coloca os dois pés na carroceria e o bichão sai empoeirando tudo ao redor.
Nesta manhã, como em outras tantas, Joca viajava pensando em levantar pelo menos 3 muros, ajeitar no mínimo 4.500 tijolos e saciar sua vontade de ver aquelas paredes imponentes. Essa seria sua realização ao final do dia. E na volta pra sua maloca, diria à mulher “Ta veno, muié? Erguemo muito broco praqueles paredão. Ói essis calo qui, ó”.
Uma pedra pontuda fez o motorista desviar com força do caminho. Ah, não! Não nesta manhã em que o Joca levantaria 3 paredões empilhando todos aqueles tijolos. O veículo arrastou o barro seco e virou a carroceria onde se amontoava aquela peãozada. A parada brusca num toco de árvore rachou a carroceria. E o Joca, interrompido subitamente nos seus pensamentos, numa fração de segundos, viu passar pela vista toda a caminhada que teria de fazer para erguer seus muros.
Os homens lançados ao chão se levantaram vagarosamente e continuaram sem o caminhão, inclusive o Joca. Os tijolos se atiravam ao chão desmoronando o muro de Joca.

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