sexta-feira, 13 de abril de 2012

O muro

            São cinco da manhã. Há um velho sentado apoiado no muro desta madrugada gelada.
O velho levanta. Deixa o papelão que lhe servia de assento jogado no chão, mas leva a garrafa. Deixou também um cheiro que lembra a sua frustração.
Passa rápido próximo ao muro uma dona, quase correndo. Nem levanta os olhos ao horizonte. Um, dois, três segundos, desvia do papelão amassado com cheiro ruim e, mais alguns segundos, até o final do muro. Não há obstáculo para ela. Pronto. Final de mais uma travessia feliz.
          São sete da manhã. Vem uma moça de cabelo esvoaçante correndo. Nem repara que seu nome está rabiscado num tijolo do muro.
           Vem mais alguém. Depois, mais uma pessoa. Outra. Chutou o papelão.
           ...
Madrugada gelada. Não tem ninguém encostado no muro. Rua deserta.

Nenhum comentário: