sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Coruja e Borboleta

Galhos. PaulaNogueira
Bela Borboleta.
Olhos de coruja nela
camuflando o medo,
na noite escura salva a vida.

Do bicho noturno foge.
Do bicho humano voa.
Do bicho faminto se esconde.

Bela Borboleta vem
mata minha fome
da tua beleza metamórfica,
da tua delicadeza.

Que seja assim
voando pra mim enquanto
desencanto tua figura
desnudando Vossa Alteza,
Princesa da Noite.

A sinfonia do predador
nutre o prazer,
encerra a tristeza.

sábado, 14 de julho de 2012

Necessárias


As palavras fogem quando eu as quero. E tento encontrá-las, mas se escondem. E vou procurando entre as letras misturadas, alguma combinação que faça sentido na tradução desses meus pensamentos...mas elas brincam comigo. E as brincalhonas são evidentemente as necessárias.

Malfeitoria


Palavra. PaulaNogueira
Maldita Palavra Mal Dita
Palavra maldita
maldita sem nascer do mal
mas amaldiçoa
por ser dita de maneira
mal

Palavra maldita
exerce influência nefasta
perversa
torna pervertida
a Mal dita palavra
Maldita palavra

Palavra mal dita
mal diz o quer dizer
maléfica se torna
nomeia imperfeita
circunstancia escassamente
conecta à força


Paula Nogueira
julho/2012

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A verdade é que



Se fosse mais eloquente,
talvez a ouvissem...
Se contivesse mais condições,
talvez a aceitassem...
Mas a verdade...
ela não promove mediação
Consiste em ser
e é
.

domingo, 15 de abril de 2012

Tempos de amor


O acontecimento em nós denunciou
por meio de olhares embriagados
paixão, amor, entrega.

É o verdadeiro sentimento
que acontece quando toca-se a pele;
É o sincero acontecendo
quando vem a sede desse gosto;

E acontecerá de faltar ar
se o seu cheiro não estiver em mim,
pois já saímos do chão
e quero com você o azul do céu.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Minutos de raiva e de sabedoria

Perambulando sobre a terra

das pessoas alegres,
simpáticas, idiotas, erradas,

- minutos de raiva -

dos funcionários, amantes, senhoras do lar,

- minutos de raiva -

temendo sonhos e lágrimas.
Perdendo o controle,

- minutos de sabedoria -

de longe esses minutos.

Bulas


Há quem se divirta com as bulas de remédios;
Outros com menininhas de programa noturno.
Há quem ouse duvidar,
mas diversão não falta
a quem me quer privar.




Paula Nogueira

Tijolos


Às quatro e meia da madrugada, Seu Joaquim joga a manta de lado e põe-se em pé ao lado do fogão para requentar o café. Passa a mão nos olhos pra ver se limpa o sono do rosto. Depois de tomar meio copo do café amargado, vai do lado de fora de sua casa e urina no sanitário ajeitado entre duas muretas e uma porta de madeira apodrecida.
Coloca sua calça cinza, a camisa empoeirada e o velho calçado de sola gasta.
Despede-se da mulher, que já se ajeita para sair também:
-Muié, tô ino. Fic’um Deus.
Sai, assim, todas as manhãs sem a sensação do corpo descansado.
Seu Joca, assim chamado pelos camaradas da construção, caminha cerca de 1 quilômetro até a estradinha que vai dar na igreja da cidade. Espera o caminhão. Mal coloca os dois pés na carroceria e o bichão sai empoeirando tudo ao redor.
Nesta manhã, como em outras tantas, Joca viajava pensando em levantar pelo menos 3 muros, ajeitar no mínimo 4.500 tijolos e saciar sua vontade de ver aquelas paredes imponentes. Essa seria sua realização ao final do dia. E na volta pra sua maloca, diria à mulher “Ta veno, muié? Erguemo muito broco praqueles paredão. Ói essis calo qui, ó”.
Uma pedra pontuda fez o motorista desviar com força do caminho. Ah, não! Não nesta manhã em que o Joca levantaria 3 paredões empilhando todos aqueles tijolos. O veículo arrastou o barro seco e virou a carroceria onde se amontoava aquela peãozada. A parada brusca num toco de árvore rachou a carroceria. E o Joca, interrompido subitamente nos seus pensamentos, numa fração de segundos, viu passar pela vista toda a caminhada que teria de fazer para erguer seus muros.
Os homens lançados ao chão se levantaram vagarosamente e continuaram sem o caminhão, inclusive o Joca. Os tijolos se atiravam ao chão desmoronando o muro de Joca.

O muro

            São cinco da manhã. Há um velho sentado apoiado no muro desta madrugada gelada.
O velho levanta. Deixa o papelão que lhe servia de assento jogado no chão, mas leva a garrafa. Deixou também um cheiro que lembra a sua frustração.
Passa rápido próximo ao muro uma dona, quase correndo. Nem levanta os olhos ao horizonte. Um, dois, três segundos, desvia do papelão amassado com cheiro ruim e, mais alguns segundos, até o final do muro. Não há obstáculo para ela. Pronto. Final de mais uma travessia feliz.
          São sete da manhã. Vem uma moça de cabelo esvoaçante correndo. Nem repara que seu nome está rabiscado num tijolo do muro.
           Vem mais alguém. Depois, mais uma pessoa. Outra. Chutou o papelão.
           ...
Madrugada gelada. Não tem ninguém encostado no muro. Rua deserta.

Recado


Agora é hora de fazer algo,
de tomar atitudes,
de chegar junto e plantar...
Se em todas as coisas,
em todos os lugares,
preenchendo almas está,
então, sejamos almas,
pois é hora que basta crer.

Em missão hoje vá
enxugando lágrimas
provocando sorrisos
para não se recordar
de um coração vazio:
não tentou amar.

Hoje a plantação pode minguar.
Mas retorna trigo novo
em meio ao joio passará
estreito para brotar
atravessando peculiar porta
para uma viagem espetacular

Indefinição


Inesperado um assovio repentino
convertido em frio embriagado...
Na branca incerteza
esfumarenta, em silêncio,
haverá pote sobre mesa,
coisa alguma, nada?

Invadindo, o ar frio e úmido serenamente
(em vão quase deixa tocá-lo)
vai abraçando os marinheiros ansiosos,
quem na densa névoa desaparecerão lentamente.

E no longínquo de tudo
onde nada se faz certo
talvez um gesto mudo,
um olhar encoberto,
sons esparsos, derradeiros...
Salpicando a água turva
serão gracejos zombeteiros?
Sorrisos presos na dúvida?

O nevoeiro surpreende
em  misteriosos traços desfigurados
mãos carentes.

Vê luz? Pedra preciosa reluzente
ou universo de prazer almejado
em cada figura de fumaça
nada aparente?

Na inverdade de que nem um sopro forte o bastante
a neblina acumulada afaste,
de que nem o sol seja o sol da dissolução,
talvez, nem tempo revele a indefinição.


Autores
PAULA E FRANCISCO
OFICINA POÉTICA DE MAUÁ


julho/2008