Às quatro e
meia da madrugada, Seu Joaquim joga a manta de lado e põe-se em pé ao lado do
fogão para requentar o café. Passa a mão nos olhos pra ver se limpa o sono do
rosto. Depois de tomar meio copo do café amargado, vai do lado de fora de sua casa
e urina no sanitário ajeitado entre duas muretas e uma porta de madeira
apodrecida.
Coloca sua
calça cinza, a camisa empoeirada e o velho calçado de sola gasta.
Despede-se da
mulher, que já se ajeita para sair também:
-Muié, tô ino.
Fic’um Deus.
Sai, assim, todas
as manhãs sem a sensação do corpo descansado.
Seu Joca,
assim chamado pelos camaradas da construção, caminha cerca de 1 quilômetro até a
estradinha que vai dar na igreja da cidade. Espera o caminhão. Mal coloca os
dois pés na carroceria e o bichão sai empoeirando tudo ao redor.
Nesta manhã, como
em outras tantas, Joca viajava pensando em levantar pelo menos 3 muros, ajeitar
no mínimo 4.500 tijolos e saciar sua vontade de ver aquelas paredes imponentes.
Essa seria sua realização ao final do dia. E na volta pra sua maloca, diria à
mulher “Ta veno, muié? Erguemo muito broco praqueles paredão. Ói essis calo
qui, ó”.
Uma pedra
pontuda fez o motorista desviar com força do caminho. Ah, não! Não nesta manhã
em que o Joca levantaria 3 paredões empilhando todos aqueles tijolos. O veículo
arrastou o barro seco e virou a carroceria onde se amontoava aquela peãozada. A
parada brusca num toco de árvore rachou a carroceria. E o Joca, interrompido
subitamente nos seus pensamentos, numa fração de segundos, viu passar pela
vista toda a caminhada que teria de fazer para erguer seus muros.
Os homens
lançados ao chão se levantaram vagarosamente e continuaram sem o caminhão,
inclusive o Joca. Os tijolos se atiravam ao chão desmoronando o muro de Joca.