respirar, suar, beber, consumir, deixar brotar o fruto do ser em expressar-se em palavras e imagens. Isso aqui...apenas escapa.
domingo, 15 de abril de 2012
Tempos de amor
O acontecimento em nós denunciou
por meio de olhares embriagados
paixão, amor, entrega.
É o verdadeiro sentimento
que acontece quando toca-se a pele;
É o sincero acontecendo
quando vem a sede desse gosto;
E acontecerá de faltar ar
se o seu cheiro não estiver em mim,
pois já saímos do chão
e quero com você o azul do céu.
sexta-feira, 13 de abril de 2012
Minutos de raiva e de sabedoria
Perambulando
sobre a terra
das pessoas
alegres,
simpáticas,
idiotas, erradas,
- minutos de
raiva -
dos
funcionários, amantes, senhoras do lar,
- minutos de
raiva -
temendo
sonhos e lágrimas.
Perdendo o
controle,
- minutos de
sabedoria -
de longe esses
minutos.
Bulas
Há quem se divirta com as bulas de remédios;
Outros com menininhas de programa noturno.
Há quem ouse duvidar,
mas diversão não falta
a quem me quer privar.
Paula Nogueira
Tijolos
Às quatro e
meia da madrugada, Seu Joaquim joga a manta de lado e põe-se em pé ao lado do
fogão para requentar o café. Passa a mão nos olhos pra ver se limpa o sono do
rosto. Depois de tomar meio copo do café amargado, vai do lado de fora de sua casa
e urina no sanitário ajeitado entre duas muretas e uma porta de madeira
apodrecida.
Coloca sua
calça cinza, a camisa empoeirada e o velho calçado de sola gasta.
Despede-se da
mulher, que já se ajeita para sair também:
-Muié, tô ino.
Fic’um Deus.
Sai, assim, todas
as manhãs sem a sensação do corpo descansado.
Seu Joca,
assim chamado pelos camaradas da construção, caminha cerca de 1 quilômetro até a
estradinha que vai dar na igreja da cidade. Espera o caminhão. Mal coloca os
dois pés na carroceria e o bichão sai empoeirando tudo ao redor.
Nesta manhã, como
em outras tantas, Joca viajava pensando em levantar pelo menos 3 muros, ajeitar
no mínimo 4.500 tijolos e saciar sua vontade de ver aquelas paredes imponentes.
Essa seria sua realização ao final do dia. E na volta pra sua maloca, diria à
mulher “Ta veno, muié? Erguemo muito broco praqueles paredão. Ói essis calo
qui, ó”.
Uma pedra
pontuda fez o motorista desviar com força do caminho. Ah, não! Não nesta manhã
em que o Joca levantaria 3 paredões empilhando todos aqueles tijolos. O veículo
arrastou o barro seco e virou a carroceria onde se amontoava aquela peãozada. A
parada brusca num toco de árvore rachou a carroceria. E o Joca, interrompido
subitamente nos seus pensamentos, numa fração de segundos, viu passar pela
vista toda a caminhada que teria de fazer para erguer seus muros.
Os homens
lançados ao chão se levantaram vagarosamente e continuaram sem o caminhão,
inclusive o Joca. Os tijolos se atiravam ao chão desmoronando o muro de Joca.
O muro
São
cinco da manhã. Há um velho sentado apoiado no muro desta madrugada gelada.
O velho
levanta. Deixa o papelão que lhe servia de assento jogado no chão, mas leva a
garrafa. Deixou também um cheiro que lembra a sua frustração.
Passa rápido próximo ao muro uma dona, quase correndo. Nem levanta os olhos ao horizonte. Um, dois, três segundos, desvia do papelão amassado com cheiro ruim e, mais alguns segundos, até o final do muro. Não há obstáculo para ela. Pronto. Final de mais uma travessia feliz.
Passa rápido próximo ao muro uma dona, quase correndo. Nem levanta os olhos ao horizonte. Um, dois, três segundos, desvia do papelão amassado com cheiro ruim e, mais alguns segundos, até o final do muro. Não há obstáculo para ela. Pronto. Final de mais uma travessia feliz.
São
sete da manhã. Vem uma moça de cabelo esvoaçante correndo. Nem repara que seu
nome está rabiscado num tijolo do muro.
Vem mais alguém. Depois, mais uma pessoa. Outra. Chutou o papelão.
Vem mais alguém. Depois, mais uma pessoa. Outra. Chutou o papelão.
...
Madrugada
gelada. Não tem ninguém encostado no muro. Rua deserta.
Recado
Agora
é hora de fazer algo,
de
tomar atitudes,
de
chegar junto e plantar...
Se em todas as coisas,
Se em todas as coisas,
em
todos os lugares,
preenchendo
almas está,
então,
sejamos almas,
pois
é hora que basta crer.
Em
missão hoje vá
enxugando
lágrimas
provocando
sorrisos
para
não se recordar
de
um coração vazio:
não
tentou amar.
Hoje a plantação pode minguar.
Mas
retorna trigo novo
em
meio ao joio passará
estreito
para brotar
atravessando
peculiar porta
para
uma viagem espetacular
Indefinição
Inesperado um assovio repentino
convertido em frio embriagado...
Na branca incerteza
esfumarenta, em silêncio,
haverá pote sobre mesa,
coisa alguma, nada?
Invadindo, o ar frio e úmido serenamente
(em vão quase deixa tocá-lo)
vai abraçando os marinheiros ansiosos,
quem na densa névoa desaparecerão lentamente.
E no longínquo de tudo
onde nada se faz certo
talvez um gesto mudo,
um olhar encoberto,
sons esparsos, derradeiros...
Salpicando a água turva
serão gracejos zombeteiros?
Sorrisos presos na dúvida?
O nevoeiro surpreende
em misteriosos traços
desfigurados
mãos carentes.
Vê luz? Pedra preciosa reluzente
ou universo de prazer almejado
em cada figura de fumaça
nada aparente?
Na inverdade de que nem um sopro forte o bastante
a neblina acumulada afaste,
de que nem o sol seja o sol da dissolução,
talvez, nem tempo revele a indefinição.
Autores
PAULA E FRANCISCO
OFICINA POÉTICA DE MAUÁ
julho/2008
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