terça-feira, 23 de setembro de 2014

Cubículo apertado

No meio das coisas, dando volta em volta de mim. PaulaNogueira
Tenho uma vacina aqui dentro
uma cura pra qualquer coisa precisando se curar

Tenho um caule pronto
pra ser cortado no primeiro impulso

Tenho um verso pronto
pra te dar de graça

Tenho uma poesia pra imprimir no verso
uma cura pro texto vadio

Tenho um dedo de vergonha 
pra não morrer de medo do mundo lá fora

Tenho o não
o sim
o ter tudo
e o dizer um pouco

Tenho um cubículo apertado pra você se derreter
enquanto canta pra mim

Tenho sete vidas pra dar uma volta bem grande
em volta de mim mesma

Teria o tato pra seguir linhas mais retas?
Teria nos arcos das paixões em que vivo me agarrando 
um repouso tranquilo e eterno?

sem título



Eu prefiro os dias quentes, porque são do meu jeito. Prefiro suar, deixando cair as gotas ardidas das sensações vindas do centro da terra. Prefiro estar nesta terra habitada por nós; sentir a erupção vinda do núcleo explodindo e queimando tudo que toca. Prefiro não me refrescar, pois o gelo é sem graça e acaba quando derrete. E essa chama só aumenta a medida que os meus vendavais alimentam suas labaredas.

Dia de prova

Olho. PaulaNogueira
Dia de prova dá dor de barriga, suadeira, ansiedade, arrependimento, auto piedade. Relatos e relatos dos que enfrentam uma avaliação, seja qual for. Em dia de prova, ficamos estressados como nunca estivemos. E, pode acreditar, estar do outro lado, para alguns professores, é um deleite o desespero alheio - tortura, sadismo. Engraçado como jogamos o jogo do algoz e do torturado dia a dia.
Em dia de prova, no papel de algoz, tenho amnésia total. 
-Professora, o que significa.... 
-Não sei. 
-Professora, como é mesmo aquele ponto que você explicou na semana passad... 
-Não sei, esqueci.
Os alunos são sempre alunos. E os professores...
Penso que poderíamos, talvez, escolher a amnésia que quiséssemos (então não seria mais amnésia). Talvez fosse uma amnésia arbitrária. Vou inventar agora: arbimnésia. A palavra não tem tanta importância agora, mas, sim, o que isso poderia significar. Poderíamos esquecer tudo que desgostamos. Esquecer as decepções e ficar só com as coisas boas. Será que ainda aprenderíamos algo? Será que esquecendo que sofremos teríamos a oportunidade de fazer dos nossos encontros, vaidades, momentos de escolha, decisões melhores e diferentes? Agora já não sei. Poderíamos esquecer as provas que aceleram o coração ou aquelas notas baixas que nos deixam frustrados, mas sem garantia de sucesso na nova oportunidade.
Outro dia assisti a um filme que contava como duas pessoas tentavam esquecer seu passado juntas por não terem tido sucesso no relacionamento. Só que, adivinha. Acabaram recomeçando a história, mas dessa vez ele sabia que iria irritar-se com o jeito dela e ela, que iria sentir-se entediada e presa. Mesmo consciente dos riscos, decidiram pela mesma história.

A arbimnésia seria ótima para os depressivos, ansiosos e sofredores de todos os tipos. Seria boa para sair do lugar? Acho que preciso pensar mais sobre isso.